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Portuguesa com cancro a viver no Reino Unido perde apoio social após piorar durante viagem a Portugal
Ana Paula Cabral, de 65 anos, diagnosticada com cancro do cólon em estágio IV viu o seu apoio social a ser suspenso e teme perder a casa em Londres, depois de ter piorado durante uma visita à família em Portugal.
A história de Ana Paula Cabral, uma emigrante portuguesa a viver no Reino Unido, foi hoje revelada pelo jornal britânico The Guardian.
Mudou-se para o Reino Unido há oito anos para ficar mais perto da filha após a morte do marido e começou a receber o Crédito Universal (UC) em julho, depois de ter sido diagnosticada com um cancro do cólon em estágio 4, doença que exigia quimioterapia intensiva e a impossibilitava de trabalhar. O Crédito Universal é o principal apoio social em Inglaterra, destinado a pessoas com baixos rendimentos, desempregadas
ou incapazes de trabalhar devido a deficiência ou doença, como é o caso
de Ana Paula.
No entanto, os seus pagamentos foram suspensos pelo Departamento do Trabalho e Pensões (DWP) em setembro, depois de ter adoecido gravemente enquanto estava em Portugal. O DWP alegou que ela tinha permanecido fora do Reino Unido por mais de um mês, ultrapassando o limite permitido.
A portuguesa viajou com autorização médica concedida a 2 de agosto para contar pessoalmente à família sobre o diagnóstico, mas contraiu uma infeção grave no sangue e teve de ser operada em Portugal, onde permaneceu em tratamento. "Pedi autorização à minha equipa de oncologia para poder vir a
Portugal contar à minha família, porque este é o tipo de notícia que não
se dá por telefone", conta Ana Paula ao Guardian. "O plano era eu vir, contar-lhes, voltar e continuar o tratamento".
No entanto, a situação clínica de Ana Paula Cabral impossibilitou-a de regressar ao Reino Unido, onde estava previsto continuar o tratamento de quimioterapia. Os médicos em Portugal e no Reino Unido aconselharam-na a ficar temporariamente em Portugal para receber o tratamento oncólogico durante três meses.
"Com a permissão do hospital Guy's (em Londres) fiquei para não adiar a minha quimioterapia e piorar a minha doença".
Apesar de apresentar provas médicas de Portugal e do Reino Unido, o recurso de Ana Paula Cabral foi rejeitado, uma vez que o Departamento do Trabalho e Pensões considerou que a viagem não tinha como objetivo o tratamento
médico.
"Recebi uma carta na semana passada a dizer que a principal
razão era porque eu estava de férias em Portugal. Que eu estava aqui e
não voltei. E porque a razão pela qual vim para Portugal não foi para
tratamento", afirma. "Claro que não. Eu deveria ter vindo e voltado. O problema foi que
tive uma infecção horrível e tive de ir ao hospital, caso contrário,
morreria".
Segundo as regras do crédito universal, citadas pelo Guardian, os cidadãos no estrangeiro podem continuar a receber pagamentos por até seis meses se viajarem para tratamento médico ou para um período de recuperação após tratamento em Inglaterra, Escócia ou País de Gales.
"Desapontada e sem dinheiro"
Confrontada com o corte dos apoios sociais e com um rendimento signifcativamente reduzido, Ana Paula Cabral corre agora o risco de perder a sua casa: "Devo pagar a renda e todas as minhas contas, mas não vou conseguir pagar. Estou realmente sem dinheiro", conta.
Após anos a trabalhar no Reino Unido e sem recorrer a apoios sociais, a emigrante portuguesa diz-se "desapontada" com a situação. "Nunca
pedi ajuda, só agora porque tenho cancro e preciso dela. Nunca tirei um
dia de baixa por doença nos oito anos em que trabalhei lá". "Estou muito desapontada porque era muito feliz no Reino Unido", afirma.
Na decisão do recurso a que o Guardian teve acesso, o Departamento do Trabalho e Pensões do Reino Unido, afirmava que a sua ausência do Reino Unido não pode ser ignorada pelo motivo apresentado.
"Reconheço que está a receber tratamento médico em Lisboa que não era esperado, no entanto, para que se aplique uma isenção devido ao tratamento médico, a ausência do Reino Unido deve estar exclusivamente relacionada com a obtenção do tratamento médico. Informou que não saiu do Reino Unido para receber tratamento médico, saiu para visitar a família e depois as suas circunstâncias mudaram. Portanto, a ausência não pode ser ignorada por este motivo."
com Guardian